sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Parabéns, São Paulo!

São Paulo é a pauliceia desvairada de Mário de Andrade. É o avesso do avesso do avesso do avesso de Caetano Veloso. Como canta o Ira, eu envelheço na cidade. Envelheço há quase 30 anos em São Paulo. Ê, cidade.

Já vi tantas coisas em suas ruas. Na Paulista eu andei. As luzes de Natal eu vi! E neste bairro tão periferia onde moro, quantas esquinas eu dobrei. Pra ir e voltar da escola. Pra socorrer correndo a minha avó. Pra estudar espanhol no centrinho da Brasilândia. Pra dar uns beijos no namorado da rua de trás...

Nas madrugadas afora, com a alegria pra fora e a responsabilidade de chegar viva em casa, dancei em suas casas noturnas. Conheci gente. Quanta gente. No sambódromo eu já sambei. Na arquibancada e na avenida. Braços abertos, cabeça pra cima. Riso e canto. Samba no pé. Nasci com ele. Neta de mulata e português. Sou filha dessa terra.

Tantos carros eu dirigi em suas tantas ruas. Nenhum deles era meu. Em tantos ônibus e metrôs passei horas da minha vida. Foi quando pude aprender mais com as leituras pra correr o tempo e conhecer tantos tipos que te compõe. Altos, magros, cabeludos, carecas, roqueiros, gordos, pequenos, engraçados, banguelos.

Em seus parques caminhei e vi muitos shows. Roberto Carlos, Rita Lee, J. Quest... Nas casas de show também paguei o preço por estar na metrópole. Vi Jerry Lee Lewis e Beach Boys. Em seus bares curti muita música de qualidade. Vi coveres de artistas: Elvis, Beatles, Pink Floyd... Mas não há coveres de você, São Paulo.

Onde se junta tanta coisa pra fazer? Tanta gente? Tantos mundos em um único lugar? Vejo as caixas de concreto nascerem no lugar das árvores e os barracos pendurados nos morros. Nem o que sai de dentro de nós quer ficar longe. Nas marginais do rio, o cheiro tira a fome de qualquer um.

Fome essa que se assassina em botecos, restaurantes, bares, pizzarias, lanchonetes. E no Terraço Itália. Um dia eu vou lá. Também vou pular de paraquedas e ver você, São Paulo, lá de cima. E ter certeza do meu amor. Porque amor, sim, rima com dor.

Dor que sinto por ser tão judiada e mal cuidada. Será verdade que quem ama cuida? Eu cuido. E vou rezar para seus filhos honrarem você, nossa mãe, nosso abrigo, inclusive nas enchentes, se minha rua não alagar. Você não é culpada de nada. E culpada de tudo. Porque não é uma terceira pessoa. É a primeira pessoa. É o “eu” de cada paulistano. De cada um que vive aqui.

Se São Paulo é o que vejo e sinto, é por culpa de cada um de nós. Felicidade, tristeza, pobreza, satisfação, sujeira, trabalho. Tudo isso é São Paulo. Tudo isso somos nós: uma família de mais de 41 milhões de habitantes.

Parabéns!