quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Hoje é dia do riso chorar

Na tevê eu via aquele povo animado nos carnavais de rua no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Aquele calor – humano e solar – e a muvuca toda não me faziam ter a menor vontade de estar nesses lugares. Mas eu sentia que precisava de um pouco de emoção nesse carnaval. Como eu, brasileira nata e com samba no pé, posso passar a data em branco? Eu não estava feliz.

Assim, na terça-feira de carnaval, apesar da minha pressão estar 8 por 6, quis ir ao Sesc Pompeia me jogar na farra. Claro que não tinha um milhão e meio de pessoas, como no galo da Madrugada, em Recife – ainda bem. Mas o povo lotou a rua central do Sesc, feita de paralelepípedos e – a essa hora – de confetes. Os galpões que a ladeiam foram unidos por varais com camisas, lençóis, blusas e saias presos com pregadores coloridos.

O pequeno carro de som levava dois músicos, deixando a banda a pé caminhando atrás. E a galera toda seguindo. Da entrada do Sesc descia o bloco pela rua até entrar no galpão perto da entrada da piscina. Lá dentro, o samba corria solto, até o tema da Globeleza tocou. Fora as clássicas: “Trem das Onze”, “Samba do Arnesto”, “Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu”... também teve “explode coração, na maior felicidade, é lindo o meu salgueiro, contagiando e sacudindo essa cidade”. Mas uma das melhores foi a da Gal: “o que será do amanhã, descubra quem puder, o que irá me acontecer, o meu destino será como deus quiser”. Fogão, cama de madeira e outra dobrável voavam no céu do galpão, amarradas no teto. Nos cantos, ventiladores soltavam água para refrescar a galera. Como o som não era muito alto, além de “em movimento”, por vezes só se ouvia o povo cantando. E na subida pela rua, jatos de água molhavam a turma já toda suada de tanta alegria!

A família típica paulistana estava lá. Sentada nos ombros do pai, a menina de vestidinho florido enchia as mãos de confete que o vô colocava à sua altura e jogava pro alto. O garoto vestido de superman estava bem à vontade, de fralda, poderia se aliviar onde quisesse. Taí uma boa ideia para o carnaval de rua! Todos de fralda!

Quem não tinha fantasia, se enfeitou com boina de lantejoulas, chapéu colorido, faixas, lenços, maquiagem, orelhinhas e vestidos coloridos! Uma senhora, com uma roupa de lantejoulas prateadas, meia arrastão preta e trança grande nos cabelos repletos de presilhas era uma das mais animadas.

Uma turma de garotos se alojou na frente de um dos galpões para ver “a banda passar”. Munidos de uma geladeira térmica cheia de cerveja, não sofreram tanto pelo sol. Ainda mais com o mercado Sonda bem em frente. Era só atravessar a rua para abastecer a geladeirinha!

Um carrinho de sorvete também colaborava para matar o calor! Para ajudar na alegria, funcionários do Sesc distribuíram serpentinas. E eu descobri que não tenho força – nem jeito – para jogá-las... ainda bem que sambar eu sei!

E a minha pressão baixa?? Bom, uma hora achei que o ar faltou e que eu iria cair... mas a alegria de um carnaval bem pulado e com qualidade me manteve em pé. E eu sambei de volta até lá em cima, para já ir embora, com a certeza de ter aproveitado pelo menos um pouco do “maior show da terra... serááááááá que eu serei o dono dessa festa, o rei! No meio de uma gente tão modesta. Eu vim descendo a serra, cheio de euforia para desfilar. O mundo inteiro espera, hoje é dia do riso chorar!”.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Colação, censura e diploma


Colação de grau, dia de festa. Finalmente, o diploma. Se bem que agora não é mais obrigatório... mas a emoção é a mesma. Foram 4 anos de estudos, provas, trabalhos e o pior dos monstros: o TCC.

Quando tudo parecia que terminaria bem, de acordo com o protocolo de solenidade da colação de grau, um burburinho, um papel e uma caneta anunciavam que algo sairia dos planos.

Com a vontade de mostrar a indignação contra a não-obrigatoriedade do diploma para jornalistas, alunos do curso começaram a escrever um curto protesto, que seria lido na ocasião, não se sabe por quem nem como.

A princípio seria depois da homenagem aos pais, aproveitando o microfone para o discurso da turma. Ainda bem que não deu. Cortaria o momento carinhoso e familiar.

Então, no meio da cerimônia, alunos tentaram conseguir uma brecha para dar a sua palavra falando com autoridades na mesa solene, afinal, ao contrário do que disse o coordenador, não fomos comunicados de nada sobre a nossa colação, apesar de um e-mail enviado à professora responsável pelo curso.

Um desencontro de informação fez a turma de jornalismo se passar por desinteressada.

Depois da resposta: “sinto muito, não vou quebrar o protocolo”, a emoção da turma mudou. E agora?

Foi quando uma aluna de jornalismo acabou sendo chamada para fazer o juramento. Era o momento ideal. Com o papel na mão, foi ao púlpito, leu o juramento e emendou o protesto. O mestre de cerimônias quis impedir, quase arrancando o papel de sua mão. Mas ela continuou no microfone. A desobediência fez o mestre de cerimônias quase surtar, e ele pediu, então, para desligarem o microfone.

Sem som acústico, a aluna saiu do púlpito e gritou a última frase do protesto contra a lei que acaba com o diploma obrigatório para jornalistas. E a turma toda aplaudiu de pé, aos gritos de “fora a censura”, recebendo o apoio dos formandos de outros cursos de comunicação.

“Não precisava ter sido assim”, disse uma professora. “Não foi o momento correto”, disse outra. “Eu adorei e aplaudi muito, foi o momento de vocês”, disse, ainda, outra.

Acredito que a faculdade apoiaria o protesto, mas sair do “protocolo” em cima dá hora deu medo demais. Fugir do quadrado não pode. Pouco importou o que a gente queria dizer. O pior foi mudar o ritmo planejado da cerimônia.

Aliás, uma formanda surda pôde quebrar o protocolo agradecendo e entregando flores à vontade no final do evento.

Nós que ouvimos, enxergamos e falamos fomos censurados. Aliás, a turma sempre foi vista com maus olhos, mesmo havendo muitas notas 10 em TCCs. A gente falava demais. E nunca éramos ouvidos.

E assim, a festa de colação terminou. Diferente do protocolo. E um tanto polêmica. Vai ficar na memória. Tinha que ser turma de jornalismo!