quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O MasterChef e nossas ilusões

Confesso que gostava de assistir ao MasterChef Brasil 2016, que acabou esta semana. Penso até que talvez tenha algo masoquista por trás disso, porque a edição do programa é feita para te deixar extremamente nervoso e ansioso. Na verdade, nem sei por que via, não curto cozinhar e acho esse tipo de competição desnecessária, só para inflar egos. Enfim, toda terça eu me animava para passar roupa vendo a disputa!

Logo gostei do Léo e comecei a torcer para ele. Qual foi minha surpresa quando um amigo revelou já ter trabalhado com ele e o pai. E a avaliação não foi nada positiva com relação ao caráter e à idoneidade da família na área dos negócios. Entretanto, isso não me fez deixar de gostar do rapaz. Até falei para o meu amigo – que com certeza não assistia ao programa –, que o Léo estava na final e eu, na torcida. Foi aí que ele disse não duvidar nada que o resultado tenha sido comprado, afinal, dinheiro para eles não era nenhum problema. Busquei uma fonte dentro da Band e quis saber se isso era possível. “Possível é, mas não acho que será feito. Pagar para participar da seleção de candidatos acontece com certeza!” foi a resposta. Mesmo trabalhando na área de comunicação, às vezes me acho muito ingênua.

Bom, a final foi na terça. Quase todos os ex-participantes, convidados para o último programa, torciam para a Bruna, enquanto 86% do público torcia para o Léo. Oitenta e seis por cento. Ele é realmente cativante... observando o perfil dele no Facebook – aquele criado para a competição, não o pessoal – há declarações de amor e exaltação à sua humildade e caráter durante o MasterChef. Depois do resultado (o Léo ganhou, para quem ainda não sabe), as pessoas começaram a comemorar criticando a segundo lugar e todos aqueles que queriam que ela ganhasse. O principal motivo, de acordo com o público, era a arrogância da Bruna.

Eu tentei observar tudo aquilo de longe, como um show midiático, sem me envolver. E então me questionei por que aqueles que conheciam o Léo na “vida real” não torciam por ele. O que nem todos estavam vendo?

Claro que o mundo não é dividido em pessoas boas e ruins, seria simples e injusto demais, mas quero questionar nossa capacidade de se iludir, de ver o raso, de defender enlouquecidamente algo ou alguém que a gente nem conhece direito e também atacar pedras. Julgamos as pessoas e criamos um mundo de ilusão como se fosse a verdade. E a mídia proporciona todo esse show. Estudiosos de física quântica dizem que esse mundo em que vivemos é uma ilusão. E o que a mídia faz é uma ilusão dentro da ilusão. É mais ou menos como no filme “A Origem”, de Christopher Nolan. O que é real?

Vamos vivendo totalmente manipulados por empresas de comunicação cujo desejo é apenas poder. Somos enganados facilmente e na maioria das vezes não nos damos conta. Acreditamos no que nos mostram, defendemos e criticamos pessoas que nunca vimos, brigamos por coisas tão fúteis que só servem para enriquecer alguém. Quando vamos acordar?

Gastamos com plásticas, produtos de beleza, equipamentos eletrônicos, móveis, carros e não conseguimos simplesmente analisar nossas vidas, ou, simplesmente, viver. Por isso há tanta insatisfação, dor e desânimo. Não sabemos por que, mas estamos errando o caminho. Criamos um mundinho cheio de julgamentos no qual nos dizem para sermos isso e fazemos aquilo. Somos teleguiados – nos últimos tempos com ajuda de celulares e computadores, não apenas da televisão.

Livros e filmes de “ficção científica” já mostraram muito isso. Eu tenho medo do futuro. Precisamos urgentemente de uma transformação interna. O quanto você vê por trás do que te mostram? O quanto você questiona o que te impõem? Com o que você se envolve? O que te move? O que é, de fato, importante para você?