sexta-feira, 10 de julho de 2015

O presente do presente


Eu planejei só o primeiro passo. O restante aconteceu.

O programado comigo mesma era ir ao Sesc Belenzinho e passar um bom tempo lá, vendo as pessoas na vida real. Sem telas. Sabia que veria crianças se divertindo. Férias. Adoro! Sentei-me no “camarote”, de frente para a mais incrível área de convivência que já conheci. Você que já foi lá sabe do que estou falando. O chão é de vidro transparente, dá para caminhar por cima olhando as pessoas nadando lá embaixo, na piscina aquecida. Eu adoro assistir às reações das pessoas a esse inusitado ambiente.

As crianças têm medo de pisar, mas se confortam e se encorajam em ir de mão dada com alguém, mesmo que seja outra criança. Chamo de segurança compartilhada. Mas, na verdade, não assegura nada se tudo aquilo desabar. A segurança está na nossa cabeça. Os passos curtos e incertos, a cabeça inclinada para baixo, olhando toda aquela água, mas sempre caminhando. Algumas choram de medo, mas continuam andando. Ninguém precisa insistir para que elas passem pelo vidro. Elas querem ir, querem testar. Em alguns minutos, depois que o medo dá adeus e vai pousar em novos ombros, as crianças começam a correr desafiadoras por cima do vidro ou se deitam no chão com o rosto virado para baixo, mirando os nadadores de um lado para outro nas raias lá embaixo.


Nem os adultos são indiferentes ao espaço. Alguns não se atrevem a pisar no vidro, caminham pelas beiradas. Tem gente que passa a vida com medo, andando pelas beiradas.

Noto um menininho oriental que fez amizade com diferentes crianças em diferentes momentos. Vi quando ele ajudou, não apenas uma vez, a menina que caiu no chão. Em um dos bancos, estavam seu pai e um casal que julguei serem os avós. Essa turma seguiu para outra atividade. E eu também.


Na lojinha do Sesc há CDs, DVDs, livros, canecas, lápis, bloquinhos, jogos da memória, guarda-chuvas coloridos... perguntei a mim mesma como poderíamos escolher um CD ou DVD para comprar sem ouvir antes. Foi quando vi uma máquina que permitia escutar os itens à venda e também conhecer mais sobre os livros disponíveis. Testei um CD de rock para crianças. Adorei.

Então segui para a exposição Imaterialidade. “A canção de amor, o brinquedo da infância e a fotografia (...) guardam sob (ou sobre) sua constituição as tessituras imateriais que apreendemos do vivido. Ao tomá-los como guias dos baús de nossas lembranças, podemos perceber que habitamos duas dimensões que se entrecruzam: de um lado, a constelação das sensações que nos vinculam aos acontecimento e, de outro, o universo de elementos concebidos como formas e meios de pensar, registrar ou reviver esses mesmos vínculos.” Foi o que escreveu Danilo Santos de Miranda, Diretor Regional do Sesc São Paulo, no catálogo da exposição.

Isso, é na vertical mesmo

É um quadrado físico?

Você passaria direto correndo?



A imaterialidade, real ou não real?, o que é real? Nossa mente acredita no que vê e sente com todos os sentidos. A mostra usa sons, cores, formas, luzes e vento (sim, vento) para falar da ausência da matéria, que não significa não existir. É mais do que existir.

Aí deu fome. Subi ao terceiro andar, onde tem uma comedoria com móveis de madeira e uma área externa de encantar qualquer mortal. Sem querer, fui levada a esse local bem na hora do pôr do sol. Um céu rosa, amarelo, abóbora, azul e vermelho tomou comigo um chocolate quente grande e um pão de queijo. Questionei o fato de dizermos “o Sol está indo embora” se, na verdade, é a Terra que gira... Então fiquei olhando ela girar, nem tão lenta e nem tão rápida, modificando as cores e as formas a cada minuto, mostrando que mudamos a cada momento. Já cantava Lulu Santos: “tudo muda o tempo todo no mundo”.



Não fiz sobreposição de imagens. É apenas o que vi...

Tirei fotos e fui enviando para minha família via WhatsApp. Quando eu estava no banheiro, meu pai respondeu com uma música para ser ouvida enquanto vê as minhas fotos. Peguei meu fone, coloquei no último volume e voltei lá para a varanda, para juntar o ver com o ouvir. A música Get Here, com a Oleta Adams, combinou perfeitamente. Ouvi umas duas ou três vezes olhando o céu tão belo quanto mutável.


Em cada canto do Sesc que eu ia, via um novo ângulo para fotografar. E tudo isso foi me preenchendo com uma sensação de presença. Eu queria estar naquele lugar olhando aquilo, ouvindo aquilo, sentindo aquilo. Que vontade de respirar fundo.


Desci para ir embora, olhei para a piscina, com aqueles lindos azulejos azuis (como se “azulejos azuis” fosse pleonasmo), combinando com aquele céu, começando a ficar escuro. Ouvi uma música na Cafeteria. Era a passagem de som da galera que ia tocar às 21h30, pela Edição Norte e Nordeste do Guitarras Brasileiras. O show seria do Pepeu Gomes, Robertinho de Recife e Felipe Cordeiro, mas eu já estava cansada. O pouco que ouvi, sentada ao redor da fonte, perto das árvores cuidadosamente identificadas e iluminadas, foi incrível, principalmente por ser instrumental. Ao fundo, uma grande instalação em formato de ondas, com bolas dentro, fechadas por redes, convidava quem quisesse tentar passar as bolas de uma onda para outra, apenas usando as mãos. Quer coisa mais simples? E divertida?


Eu não sabia para onde olhava. O céu parecia estar arrumado para um evento de gala, as árvores carregavam elegantemente suas folhas, crianças e adultos dançavam automaticamente ao ouvir o som vindo da Cafeteria. Ao longe, duplas jogavam tênis, pessoas conversavam, meninos e meninas corriam, como se pudessem chegar mais rápido no futuro. Nem adiantava falar que o futuro não existe...

Quero guardar tudo isso aqui dentro e ficar lembrando. Mas que ironia. A beleza disso é que foi um momento presente bem vivido. Mas agora virou passado. Que outros bons presentes aconteçam. Só depende de mim.