terça-feira, 9 de março de 2010

Jornalista pagando mico

Um belo dia, sambando no Sesc Pompeia, um caça-talentos de uma produtora gostou do meu jeito de dançar e me perguntou se eu tinha interesse em fazer figuração. Ah, o sorriso da vaidade brilhou em mim! Quem não quer de ser elogiado? Disse que gostaria, sim. Então ele tirou algumas fotos e pegou meu telefone.

Em outro belo dia, depois de uns dois meses desse encontro, o cara me liga, perguntando se eu sabia acompanhar uma coreografia para uma propaganda. O cachê era bom! É claro que aceitei e fui fazer o teste.

Lá, moças bonitas, sem uma espinha na cara, com os cabelos impecáveis (que cabelos, meu deus!) aguardavam para fazer o teste. Todas magras, bem cuidadas, vindas de agências. Uma estava preocupada com a coreografia. Será que daria conta? Já tinha feito dança contemporânea. Outra disse que estudou clássico por seis anos, mas fazia tempo. A moça do lado sabia a do ventre e já tinha feito outros tipos. A da frente era professora de dança. E eu?? Ah, eu sabia sambar... e aprendi sozinha, viu?

Lá, descobri que as candidatas seriam maquiadas, vestiriam uma roupa de empregada doméstica e dançariam com uma bandeja na mão. Na sala de espera, estava me divertindo com a situação, apesar de me achar um peixe fora d´água... quase desisti, depois de duas horas de espera.

Quando me chamaram, primeiro vesti a roupa: um vestido preto reto, de botões na frente. Por cima, uma saia bem rodada, recheada de tule. E, ainda, meia-calça preta, sapato social, uma flor vermelha na lapela e luvas de renda. Meus cabelos curtos ganharam um penteado retrô, com ondas feitas com muito laquê. O maquiador disfarçou minhas olheiras com maquiagem e pintou meus lábios com um batom muito vermelho. Pronto! Eu estava uma empregada. Estilizada, claro.

Agora foi a pior parte: a coreografia. Conta tempo, marcha, sorri, dança, se solta, mexe os ombros... me senti uma ridícula... Não pela profissão, claro, admiro quem tem talento para atuar e representar. Mas, eu, na minha essência, são sou atriz, nem bailarina. Socorro! Me deem um bloco de papel e uma caneta!! Mostrar um sorriso fingido, rebolar e representar um personagem foi muito para mim.

Claro que ficou na cara que eu não tinha nada a ver com aquilo. O coreógrafo perguntou se eu estava nervosa! Imagine! Pediu mais leveza, mais charme. “Olha pra câmera! Aqui!”, “Não fica de costas!”, “Sorria!”. Não deu... na apresentação individual da coreografia, fui mal... nem me deixaram terminar! “Tá bom, obrigada. Próxima!” Eu rio, porque não estudei para a coisa, mas eu queria, pelo menos, ter me dado bem, mesmo que não fosse escolhida!

Agora, com a boca toda vermelha ainda, o cabelo duro de laquê, escrevendo este texto, eu me pergunto: o que eu fui fazer lá? E a resposta é: fui viver uma experiência nova que agora divido com os leitores do meu blog. Uma jornalista na pele de uma atriz pagando mico.

E, para não fugir da profissão tão perguntadeira e observadora que tenho, enquanto estava me produzindo, descobri que maquiador ganha mal, que figurinista fica até acabarem os testes e vida de artista não é fácil, não... me chamem quando for pra sambar, tá?