segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nosso amigo Paul

Parecia um parente de tão próximo. Não só porque suas músicas estão constantemente em nossas mentes, marcando momentos ou simplesmente nos divertindo. Mas também pela postura no palco. É como se fosse um amigo íntimo muito talentoso e atencioso que se apresenta na sala de visitas onde cabem 50 mil pessoas. Foi assim que conheci Paul McCartney em seu show em Porto Alegre. Muito, muito prazer.

Tudo começou com a ideia de aproveitar a oportunidade de poder ver, mais de uma vez, um show deste ser lendário que está em plenos 68 anos de vida. Você já pensou ver o show de um beatle? Da banda mais influente do mundo? Da melhor banda que já existiu? Na sua cabeça começa a passar as imagens dos quatro correndo nas ruas ao som de “A hard days night”, no início do filme; trechos de músicas gravadas em estúdio, com os fones nos ouvidos, como em “You´re gonna lose that girl” e “Hey Bulldog”; “One after 909” no telhado... e muitas outras. Você pensa em como a banda é fantástica e que você está vendo um de seus integrantes vivo, muito vivo, cantando sucessos daquele tempo em que muitos fãs nem sonhavam em nascer...

Porto Alegre cheirava a rock. Primeiro as faixas saudando o artista desde a saída do aeroporto! Na minha volta pelo centro da cidade, encontrei lojas com muitos CDs de rockers dos anos 50, minha paixão. Em uma delas, ao som de Creedence, eu pude ver pela TV na vitrine Ed Sullivan em seus programas em preto & branco ainda, que recebiam artistas como meu ídolo Elvis Presley.

No mercado, onde fui comprar o almoço, a banda de new-rockabilly Stray Cats tocava nos alto-falantes. Que vontade de dançar... saindo de lá, encontro um vendedor de jornais com o Zero Hora especial sobre a vinda do ex-beatle para a capital do Rio Grande do Sul.

Cheguei ao quarto impressionada. Foi como me disseram. Porto Alegre estava no clima e respirava Paul McCartney. Isso sem contar que no sábado à noite, enquanto jantávamos em um restaurante de massas, a sobrinha do dono do estabelecimento entrou gritando que tinha pegado na mão do Paul!

Nas ruas, milhares de modelos diferentes de camisetas. No Shopping perto do Beira Rio era um desfile de itens que lembravam os Beatles. Cada um queria ter a mais bonita e original vestimenta. Taí o clima família de novo. Todo mundo “uniformizado”, que se juntaria mais tarde em uma grande festa dada pelo Paul, sem imaginar que emoções poderia sentir.

Do hotel onde meu namorado e eu ficamos hospedados ao Beira Rio dava 4 quilômetros. Fomos a pé, curtindo o sol, a bela cidade, os parques e as paisagens do caminho.

Por volta das 17 horas, a multidão já era grande se dirigindo para o estádio. Senhoras com almofadas nas mãos e muita gente com bebidas à tira colo seguiam a “Long And Winding Road” que parecia não ter fim.

O calor era demais. Vendedores de camisetas, bebidas, faixas, almofadas e bonés do Inter faturaram alto. Embaixo de guarda-chuvas ou caixas de papelão abertas estavam os fãs que há dias acamparam na frente dos portões. E derretiam naquele sol, mas sem expressão de sofrimento. Na verdade, era um orgulho estar ali.

Onde terminavam as filas era coisa impossível de saber. Um caracol desorganizado. Pessoas deitadas, sentadas, de pé. Cansadas e ansiosas. Silêncio!! O Paul tá cantando!! Tá nada, deve ser CD. Mas era ele, passando o som lá dentro do estádio. Quem pagou 1.450 dólares pôde curtir esse momento, pertinho do ídolo. A nós, lá fora, esperando para sentar nas cadeiras não numeradas, restava ficarmos quietos e tentar adivinhar o que ele estava cantando. E a galera vibrava do lado de lá e do lado de cá do estádio. Pelo menos até o momento em que começaram a gritar do lado de fora do estádio “abre, abre, abre” às 17h30 em ponto!

Meu passatempo foi olhar as camisetas das pessoas. Muitas usaram do Inter, homenagem justa ao time que cedeu a sala de visitas para o encontro. Uma que não gostei estava escrito: “McCartney > Lennon / Beatles = Paul + 3”. Achei uma injustiça com os outros membros. Principalmente porque John é o meu favorito...

Nosso lugar era entrando pelo Portão 15. Lá de longe, na muvuca, vimos o pessoal subindo a rampa comemorando a vitória. Parecia que iam subir ao céu e encontrar um deus. Lá de baixo, achávamos que a fila estava enorme. Mas nem tinha fila para este setor. Era só subir.

Assim como lá fora, dentro do estádio havia lojinhas oficiais com camisetas muito lindas da turnê, além de chaveiros, fotos, credencial, bottons... tudo com precinho bem britânico. E aceitavam cartão. Tinha, também, as mais baratas, made in Brazil, só do lado de fora do estádio, claro.

Na hora da bagunça, da fila, do aperto, você não se concentra no que vai ver. Não dá tempo de imaginar o que o Paul vai fazer, vai cantar, vai dizer. Você quer é entrar rápido, fazer xixi logo, escolher o melhor lugar do estádio, comprar um lanche e beber alguma coisa, mesmo que custe os olhos da cara e que a fila seja interminável. Só na do banheiro feminino eu contei mais de 60 mulheres esperando... Preparação cumprida, você se senta no sofá de casa, pronto para ver o que você nem sabe o que vai te causar. Eletrizante.

Acomodados e bem alimentados, bem de frente ao palco, mas passando pelo campo todo, lá nas cadeiras, Daniel e eu esperamos o Paul aparecer contando os minutos. Enquanto esperavam, as pessoas inventavam algo pra se distrair. O som ambiente estava um pouco baixo. Nós brincamos de adivinhar as músicas remixadas dos Beatles e do Paul que tocavam com batida eletrônica. Algumas pessoas tiravam fotos, conversavam, tentavam acessar a internet...

Em certo momento, começaram as olas. Estádio de futebol sem ola não é estádio! Os anéis superior e inferior, do começo ao fim, faziam olas de dar gosto, com direito a grito na hora de levantar e palmas no final, pedindo mais. Tudo era diversão naquele momento. Quer alegria maior? Era um alívio já estar dentro do Beira Rio, só esperando o ídolo aparecer.

Talvez cansado de esperar, um fã resolveu colocar um pouco mais de emoção em seu domingo. Levantou uma bandeira do Grêmio na casa do arqui-inimigo Inter. Mereceu as vais e os gritos: “Ão, ão, ão, segunda divisão”. Não havia violência, só brincadeira. Mas o engraçadinho levou uma bela bronca do segurança...

Nas arquibancadas, se via jovens, mais jovens ainda e aqueles que viveram o auge dos Beatles. “Ele foi meu primeiro amor”, disse uma mulher mostrando pra amiga, com orgulho, a foto do Paul que acabara de comprar na lojinha.

Bom, 21h. Hora de começar. Com apenas 10 minutos de atraso, o gentleman entrou no palco, lindo, de calças pretas, blazer roxo, camisa branca, suspensórios pretos e muita simpatia. Seu uniforme.

De onde estávamos, Paul tinha menos de meio centímetro, mas, nos telões, a imagem era incrível. Uma definição perfeita! De lá de cima, não víamos só o Paul, mas o estádio inteiro, todos os setores. Uma energia contagiante. Só dava para gritar, balançar os braços e cantar. É o Paul!! O Paul está aqui!!

E, como nosso amigo de longa data, nos saudou com um “Boa noite, tudo bem?”. Assim mesmo, em português. “Vou falar em português”. E apresentou as músicas: “essa eu escrevi para minha gatinha, Linda. E agora dedico para os namorados”, era “My Love”. E eu abracei o meu amor, com algumas lágrimas... Paul também disse: “essa eu escrevi para o meu amigo John”, e mandou “Here Today”.

Um dos momentos de êxtase para mim foi com “Something”. Como eu nunca tinha visto um show do beatle, não sabia das “regrinhas”, ou seja, o que acontecia sempre. Ele começou a homenagem ao George tocando ukulele, num ritmo bem havaiano. No momento do solo, a melhor parte da música, entra a banda toda, e o guitarrista inunda o ar com aqueles acordes maravilhosos.

Eu olhava para aquele céu azul escuro, sentia o vento refrescante daquela noite de verão tão gostosa ao lado do meu amor, ouvindo um ídolo, um mito, um herói. Eu estava completa. Não cabiam nos meus olhos, nem no meu coração, toda aquela sensação de “agora eu morreria feliz”. Na cara, o mesmo sorriso bobo durante todo o show. Às vezes, o grito por uma canção favorita, as lágrimas e os olhos fechados para sentir melhor...

As pessoas gritavam, cantavam, pulavam, dançavam e acenderam isqueiros em “Let it Be”... o Paul cantava para nós... falando a nossa língua, brincando com as expressões típicas gaúchas: “trilegal”, “báh, chê!”

Quando acabava a música, Paul agradecia. E meu namorado dizia: “Thank you”. Nós é que devemos agradecer por ele ter trazido sua história e sua música maravilhosa pra nossa noite, pra nossa vida. Aquilo seria eterno para 50 mil pessoas, pelo menos.

E era só o ídolo ficar quieto, entre uma música e outra, para o estádio inteiro começar a bater palmas e gritar no ritmo delas “Paul, Paul, Paul”... e ele adorava isso. Pedia mais!

Outro ápice da noite foi com “Live and let die”. Eu não sabia o que me aguardava. Estava ali, já estarrecida na presença do Paul e daquele mundo de fãs quando o palco se encheu de focos de fogo saindo do chão, e, de cima do palco, correram fogos dourados estourando no ritmo da música. O telão do fundo do palco mostrava cenas de explosões, parecia que tudo estava mesmo explodindo. Era a metáfora do que aquela noite significava para nós. Eu não sabia para onde olhar. Não piscava, queria absorver toda aquela luz, aquele calor, aquela alegria!!

Quando acabaram os rojões, Paul fez “não” com os dedos e a cabeça, colocando as mãos nos ouvidos e, em seguida, no coração, como se dissesse: “isso é muito barulho para mim, meu coração não aguenta”. Ele sabia que estávamos em êxtase e que era um dos pontos altos do show.

Toda hora, Macca fazia um arco com os braços na lateral e unia as pontas no dedos no meio da cabeça, simbolizando um coração. Como não amar alguém assim? Simpático, carinhoso, talentoso, iluminado, com o poder de contaminar 50 mil pessoas com felicidade plena?

A última da noite: "The End". Perfeita! "Oh yeah. Alright. Are you gonna be in my dreams Tonight?" - eu gritei feito uma louca. Depois veio o solo de bateria, que me deixa petrificada sempre que ouço (inclusive com a belíssima interpretação da banda cover ZoomBeatles, que vejo todo mês em SP), e os solos das guitarras. Sou apaixonada por essa música. Aí começa o pianinho, bem tranquilo: "and in the end, the love you take is equal to the love... (entra a bateria e a guitarra) you make... ah, ah...". Sem palavras, mas muitos gritos.

No final, uma chuva de papéis picados partiu do chão próximo ao palco e seguiu voando até passar por cima do estádio. Fiquei louca atrás de alguns deles. E acabaram chegando até mim, apesar da distância. Consegui um verdinho e um amarelo. Brasil recebendo Paul. Que momento!

O melhor show da minha vida. Não levei câmera, mas está tudo aqui, dentro de mim, me deixando, ainda, a sensação de bem-estar, de prazer completo, apesar dos 4 quilômetros a pé na volta, a noite pouco dormida e a viagem de avião para São Paulo. De volta ao lar.

E sabe o que é o melhor de tudo isso?
Eu vou ver de novo! E, desta vez, na pista prime, pertinho do Paul.
Só posso fazer reverências a você, Sir.
Até o dia 21/11.

Ah! Muito, muito prazer em lhe conhecer!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quando o carrasco de você é você mesmo

Hoje em dia, não é preciso que alguém te difame, você mesmo é capaz de fazer isso, e muitas vezes sem saber a dimensão que a situação pode alcançar.

Saudades dos tempos em que os diários eram de papel... Você o fechava com um cadeado e no máximo alguém xereta conseguia abrir e contava pra escola inteira. Hoje, com os diários virtuais, o mundo é o limite... uma bobagem que se solte, um desabafo impensado jogado ao vento e pronto, alguém lá no Sri Lanka pode ler, ouvir, entender e te julgar!

As pessoas escrevem sem pensar e colocam em risco a sua própria integridade. Foi o que aconteceu com Mayara Petruso, estagiária e estudante de direito que foi despedida por comentários preconceituosos sobre nordestinos em seu twitter.

O nome dela foi até parar no site “Macumba online”, com gente desejando que ela pegue lepra. Não sei o que é pior, preconceito ou “tacar pedra”. É tão fácil apedrejar alguém, mais difícil do que desejar que a pessoa reveja sua atitude seriamente. É a lei do castigo. Se ela funcionasse, os presos saíam santos da prisão...

Isso me lembrou um episódio do Chaves, aquele em que o Sr. Furtado rouba vários objetos dos moradores da vila e eles pensam que foi o Chaves. Quando o verdadeiro ladrão ouve o menino pobre dizer que não desejava que o criminoso fosse preso, mas que se arrependesse e devolvesse o que roubou, ele se sensibilizou com a pureza da criança e devolveu. Utopia? Eu prefiro ensinar pelo lado do bem, mas tem gente que gosta de ensinar pelo lado do mal: castigo, “pagar na mesma moeda”, pena de morte... etc.

Sei que isso passa pela cabeça de todo mundo em momentos de revolta, mas não acredito que alguém queira ser culpado de alguma morte, apedrejamento, ou acidente, como se isso fosse metodologia de ensino.

Voltando ao caso... imagine o nome da Mayara rodando pela net, os amigos comentando, o namorando recebendo emails com piadas a respeito. Meu deus, que vergonha alheia!

As pessoas acreditam que liberdade de expressão é isso. Poder dizer o que quer, onde quiser, quem não gostou que se lixe. Mas quando o feitiço vira contra o feiticeiro e a vítima de sua difamação é você próprio, não há a quem culpar.

É certo que existe muita hipocrisia. Todo mundo quer se passar de politicamente correto. Quero ver quem joga a primeira pedra. Mas aprendemos desde pequenos a reprimir os sentimentos ruins e só expressar coisas boas: amor, respeito, solidariedade. Violência, preconceito e injustiça é coisa de gente ruim!

E já dizia o velho ditado: “boca fechada não entra mosquito”. Você pode sentir todos esses sentimentos ruins. É humano. Todo mundo sente às vezes, mesmo inconscientemente. Mas, é preciso pensar se eles têm fundamento ou cabem em qualquer sociedade que exija uma boa convivência entre as pessoas. Ou ter, no mínimo, alguma empatia (você gostaria de ser discriminado??). E boca fechada nas redes sociais. Quer expressar os pensamentos mais polêmicos?? Volte ao velho diário de papel. Pelo menos, você manterá o seu emprego...