quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quando o carrasco de você é você mesmo

Hoje em dia, não é preciso que alguém te difame, você mesmo é capaz de fazer isso, e muitas vezes sem saber a dimensão que a situação pode alcançar.

Saudades dos tempos em que os diários eram de papel... Você o fechava com um cadeado e no máximo alguém xereta conseguia abrir e contava pra escola inteira. Hoje, com os diários virtuais, o mundo é o limite... uma bobagem que se solte, um desabafo impensado jogado ao vento e pronto, alguém lá no Sri Lanka pode ler, ouvir, entender e te julgar!

As pessoas escrevem sem pensar e colocam em risco a sua própria integridade. Foi o que aconteceu com Mayara Petruso, estagiária e estudante de direito que foi despedida por comentários preconceituosos sobre nordestinos em seu twitter.

O nome dela foi até parar no site “Macumba online”, com gente desejando que ela pegue lepra. Não sei o que é pior, preconceito ou “tacar pedra”. É tão fácil apedrejar alguém, mais difícil do que desejar que a pessoa reveja sua atitude seriamente. É a lei do castigo. Se ela funcionasse, os presos saíam santos da prisão...

Isso me lembrou um episódio do Chaves, aquele em que o Sr. Furtado rouba vários objetos dos moradores da vila e eles pensam que foi o Chaves. Quando o verdadeiro ladrão ouve o menino pobre dizer que não desejava que o criminoso fosse preso, mas que se arrependesse e devolvesse o que roubou, ele se sensibilizou com a pureza da criança e devolveu. Utopia? Eu prefiro ensinar pelo lado do bem, mas tem gente que gosta de ensinar pelo lado do mal: castigo, “pagar na mesma moeda”, pena de morte... etc.

Sei que isso passa pela cabeça de todo mundo em momentos de revolta, mas não acredito que alguém queira ser culpado de alguma morte, apedrejamento, ou acidente, como se isso fosse metodologia de ensino.

Voltando ao caso... imagine o nome da Mayara rodando pela net, os amigos comentando, o namorando recebendo emails com piadas a respeito. Meu deus, que vergonha alheia!

As pessoas acreditam que liberdade de expressão é isso. Poder dizer o que quer, onde quiser, quem não gostou que se lixe. Mas quando o feitiço vira contra o feiticeiro e a vítima de sua difamação é você próprio, não há a quem culpar.

É certo que existe muita hipocrisia. Todo mundo quer se passar de politicamente correto. Quero ver quem joga a primeira pedra. Mas aprendemos desde pequenos a reprimir os sentimentos ruins e só expressar coisas boas: amor, respeito, solidariedade. Violência, preconceito e injustiça é coisa de gente ruim!

E já dizia o velho ditado: “boca fechada não entra mosquito”. Você pode sentir todos esses sentimentos ruins. É humano. Todo mundo sente às vezes, mesmo inconscientemente. Mas, é preciso pensar se eles têm fundamento ou cabem em qualquer sociedade que exija uma boa convivência entre as pessoas. Ou ter, no mínimo, alguma empatia (você gostaria de ser discriminado??). E boca fechada nas redes sociais. Quer expressar os pensamentos mais polêmicos?? Volte ao velho diário de papel. Pelo menos, você manterá o seu emprego...

2 comentários:

andreiacarbona disse...

ponderadíssima reflexão, Carol. Tem tanta coisa bacana que rola na internet e não ganha a dimensão que certas "bolas-foras" públicas conseguem ter... Abraço. Andreia Laimer
http//recantodasletras.uol.com.br/autores/andreialaimer

Carol Gonçalves disse...

Falta foco para questões para mais importantes, né?

Abraços